A primeira receita
Fiz wedges no forno para a primeira receita do privileged egg whites e divaguei um bocadinho pelo meio.
A minha amizade com a Bé foi-se construindo, ao longo dos anos, em cima de vários pilares: as 300 massas de atum que partilhámos em 2017, os maus encontros que tivemos e os audios que fomos trocando pelo telegram. Atum, desilusões e audios: esses três sustentos das relações modernas. Mas os audios, em particular, estiveram na base de alguns acontecimentos marcantes: foram eles que nos levaram a começar o podcast e a pensar em montar uma empresa juntas; são quase sempre os mesmos a dar origem aos tweets que escrevo; e foi também um audio dela que me levou a escolher as wedges como a primeira receita do meu substack.
Suponho que as pessoas (“aS peSsOaS” ) fiquem pouco impressionadas com a minha histeria em torno do meu substack, mas eu passei este ano a tentar encontrar um hobby que me deixasse entusiasmada pela sua realização (porque, geralmente, eu gosto de imaginar quão fixe seria ter o resultado final de uma determinada atividade, mas não estou disposta a investir o tempo e a energia necessários para lá chegar; porque, enfim, provavelmente não gosto dela o suficiente) e acho que finalmente consegui encontra-lo. Como sempre acontece, era um hobby que dispensava esforço de busca; eu já escrevia e também já cozinhava. Nem sempre com sucesso, mas definitivamente com prazer. E agora tenho um lugar onde posso misturar as duas e, melhor ainda, fazê-lo ao mesmo tempo que tento criar uma pequena comunidade. Foi preciso experimentar a arte do manifesting para aqui chegar (muito difícil para os que, como eu, morrem de medo de admitir qualquer tipo de ambição), mas não me arrependo de nada.
Falava sobre a Bé e os audios que nos trouxeram até aqui. As wedges são o primeiro post de uma série de back to the basics na cozinha, cujo objetivo é ensinar a cozinhar as coisas mais simples, mas transmitir pequenos truques que as permitem tornar-se nas melhores dentro da sua simplicidade: o segredo do melhor arroz de feijão, a dica que ajuda a dar um up à massa de atum, o truque para cozinhar as melhores wedges no forno. As minhas primeiras wedges calharam cocó: é por isso que vocês podem confiar neste receita, que foi corrigida para ter em conta os erros cometidos aquando da primeira tentativa.
Ingredientes (servem 2 pessoas)
Três batatas grandes (eu uso as de casca vermelha)
Sal, paprika e pimenta preta qb
Azeite
Passo a passo
Descascar as batatas e corta-las em gomos de tamanho e peso o mais semelhante possível entre si (a dimensão e o peso das wedges são metade do sucesso da receita: se forem muito diferentes, umas irão cozinhar mais rapidamente do que as outras);
Demolhar as batatas em água quente durante 10 minutos;
Enxugar as batatas e tempera-las com sal, paprika e pimenta preta (menos é mais);
Regar com um fio de azeite e envolver até todas as batatas estarem devidamente temperadas;
Dispor as batatas num tabuleiro forrado a papel vegetal - garantir que estas não se tocam entre si;
Levar ao forno previamente aquecido a 200°C;
Truque para obter as wedges mais estaladiças: virar as batatas a cada 12 minutos até o tempo no forno perfazer os ~45 minutos no total. Regra geral, eu viro-as 4 vezes e aumento a temperatura para 230°C nos 5 minutos finais.
Nota final
Esqueço-me do que li há três meses, mas deste excerto de um diário do Tolstoy que li há oito anos nem por isso. Escrever para os outros lerem é estranho. É estranho porque é difícil esquecermo-nos desse ponto, e esse pensamento leva a outros, que dizem respeito ao próprio propósito do trabalho em si, os quais, por sua vez, nos influenciam a alterar o conteúdo do que escrevemos, e eis que o resultado final se começa de repente a revelar confuso, fútil. Se eu puder cumprir um único desejo com estes textos que seja o de que, inúteis ou não, se possam ouvir as minhas ‘rumblings’ através dos mesmos. Ou seja, sem floreados. Abaixo os floreados!
Até à próxima 👋