Acordei com uma grande explosão em Lisboa. Por coincidência, eu tinha saltado da cama um pouco antes das sete e meia; bebi água, reparei nas horas e regressei ao bem bom, contente por ainda me restar uma hora até o despertador tocar. O silêncio durou poucos segundos. De repente, foi como se uma rajada de vento com uma força megalómana tivesse soprado o prédio onde vivo. Cama, janelas, móveis, tudo abanou. Lembrei-me das explosões de Beirut (#dramática). Da janela via-se uma grande nuvem de fumo negro, relativamente perto de onde eu moro. Na internet ainda ninguém falava falar sobre o assunto. Ouviam-se carros de bombeiros e sirenes de ambulância, que de inicio me preocuparam mais, e depois passaram a descansar-me; alguém estaria a tratar do assunto. A nuvem de fumo foi-se tornando cada vez mais clara, até se tornar totalmente branca. Pequenas cinzas, embaladas pelo vento, vieram pousar na minha varanda. Mais tarde descobri que a explosão tinha resultado do desabamento de um prédio duas ruas abaixo daquela onde vivo. «Que cena macabra, podia ter sido no meu prédio e eu possivelmente já não estaria aqui». De seguida, continuei a minha vida.
Parti em busca de uma t-shirt branca, básica, de boa qualidade, que me quero oferecer de prenda de Natal; não a encontrei. Passeei pelo shopping. Espirito natalício, este ano? Zero, nenhum. Nem músicas de Natal consigo ouvir sem me sentir logo a espumar de nervos. Folheei alguns livros na fnac; peguei no humilhados e ofendidos, que ando há mais ou menos um ano para comprar; confirmei que ainda custava quase 20€; pela centésima vez, então, tornei a pousa-lo na estante, pensando que o compraria noutro dia. Tentei sentar-me no chão a ler - não há cadeiras na fnac onde estava -, mas até esse pequeno prazer a pandemia me retirou. Uma funcionária aproximou-se: “peço desculpa, mas vai ter de se levantar. É proibido estar sentado.” É proibido estar sentado…
Ando a ler um livro do Emmanuel Carrère chamado: ‘Outras Vidas Que Não a Minha’. Antes, li 'O Adversário’, também do mesmo autor. Ele parece gostar de começar as histórias pelo seu climax, que depois se esforça por manter, quase sempre com sucesso, recorrendo a uma grande força de imaginação e à sua curiosidade natural, que o levam a procurar e a dar de caras com o lugar aonde o surreal por vezes acontece: a vida real. Ao mesmo tempo, ele tem aquele estilo de escrita de pessoa que parece approachable, com quem nos imaginamos a tomar um café e a ter uma conversa banal, mas interessante. Uma pessoa que iria compreender, não julgar. Ou talvez julgar, mas de uma forma que não nos ofenderia. Acabei de googlar «Emmanuel Carrère»; a ex-mulher, que, no livro que estou a ler, ainda é mulher - Deus! - ameaçou-o de que se este não retirasse uma passagem sobre a mesma do último livro que publicou - Yoga - ela o processaria - valha-nos Deus! Se é para ter dramas, que sejam dramas destes.
De resto, está quase tudo na mesma. Na verdade há uma pequena novidade, mas ainda não a posso revelar- talvez um dia. Trabalho, afazeres da vida doméstica, passeios a pé e pouco mais. Vou para o Porto na Quarta-feira, dia 23 de Dezembro; passo o Natal apenas com os meus pais este ano, algo que já tinha acontecido uma vez, em 2008, o ano em que o meu primo Jorge morreu com um linfoma. Estou feliz por rever os meus pais, a companhia deles é cada vez mais agradável para mim; até da intensidade do meu pai tenho saudades. E, seja como for, será apenas por uns dias, porque conto regressar antes da passagem do ano- para celebrar o aniversário do meu amor.
2020, foste fofinho.
Arroz de perca (serve 2 pessoas)
Ingredientes
1 cebola grande
4 dentes de alho
1 folha de louro
1/2 pimento vermelho cortado em cubos
1 malagueta
1 lata de tomate em pedaços (ou 3 tomates pequenos e maduros)
1/5 de um copo com vinho branco
1 chávena de arroz carolino
2 postas grandes de perca
Salsa picada
10 camarões (já cozidos)
Passo a passo
Refogar a cebola, o alho, o pimento vermelho e o louro num fio de azeite, em lume brando, durante ~10mins;
Adicionar o tomate e o vinho branco; envolver e deixar o lume muito baixo, para que os ingredientes cozinhem lentamente;
Numa panela ao lado, cozer a perca previamente temperada com sal. Quando a mesma estiver cozida, retira-la, reservando a água - que será usada para o arroz - e separar o peixe das espinhas, conservando pedaços grandes do mesmo;
À panela original deve-se agora aumentar o lume, adicionar 3 canecas de água (a água onde a perca foi cozida) e, por fim, o arroz. Esperar que a mistura ferva e reduzir o lume;
Quando o arroz estiver quase cozido - ~8mins -, adicionar a perca e os camarões; deixar que ambos terminem de cozinhar;
Salsa a gosto e voilà :)
Até à próxima 👋