A vida em Miramar é simples. Quase como as recordações que tenho da minha infância. Pouco ou nada para fazer, muito silêncio, as mesmas caras constantemente.
Chegámos há duas semanas e a ideia era ficarmos apenas por uns dias, mas, pela proximidade do meu aniversário, decidimos prolongar a estadia. A casa dos meus pais, onde estamos, é constituída por três pisos: o primeiro, onde se encontram a cozinha, a sala, um hall e uma casa de banho; o segundo, onde estão os quartos e duas casas de banho; e o terceiro, um grande salão onde fica o escritório, outra casa de banho de serviço, e mais uma zona de estar. A sala é o território do meu pai, que consegue ficar a ver televisão durante seis horas seguidas (olá, jogos do benfica b, c, d e j); eu não gosto de trabalhar lá em cima porque faz muito frio - e, de qualquer forma, é a zona de onde o meu namorado trabalha -, pelo que fico na cozinha das oito da manhã às nove da noite. Há uma lareira na cozinha, que ligo quase todos os dias e que torna o cenário menos deprimente.
Miramar é um pequeno lugar ao pé do mar onde existem meia dúzia de cafés e de restaurantes, duas capelas, uma mercearia, um campo de golfe e um clube privado com piscina e courts de tennis, onde eu treinava quando era mais nova. De resto, só moradias germinadas, todas diferentes entre si, mas quase todas de bom gosto, que entretêm os olhares dos moradores, e não só, quando estes se deslocam pelas suas ruas em pequenos passeios a pé. Em Miramar toda a gente tem um cão, que deixa à solta no jardim de sua casa; os cães conhecem-se entre si e, quando um deles tem a sorte de ser levado em passeio, os restantes, do lado de dentro dos respetivos portões, mostram a sua inveja pela liberdade do seu semelhante através de ruidosos latidos.
No verão, Miramar é um local muito agradável para existir, sobretudo por causa da praia, esse local de infinito entretenimento; o areal é tão largo e tão longo que mesmo ao Domingo é possível pousar a toalha a vários metros da pessoa seguinte. Há uma pequena capela plantada na areia, no caminho do mar. Nunca há trânsito, nunca não há onde estacionar. As esplanadas nunca ficam cheias. Comem-se gelados de máquina à colher nos passeios da noite e, pela altura das festas do senhor da pedra, algodão doce. Os vizinhos, embora simpáticos, nunca chegam a invadir a nossa privacidade com perguntas inconvenientes, ficando-se apenas pelos educados ‘bom dia’, ou ‘boa tarde’. E, por uns momentos, é possível sentir uma confiança cega de que tudo irá correr bem.
Depois chega o Outono. O silêncio, que ainda semanas antes era elogiado com orgulho, começa a pesar. Um frio húmido e persistente invade as ruas e entra pelas casas. Os próprios cães suspiram de tédio. As pessoas carregam um olhar que parece dizer: saudades, mas não sei bem do quê…
Eu estou a trabalhar de casa desde Março (já era comum faze-lo antes disto tudo e inclusive já tinha trabalhado remotamente durante um ano e meio entre 2016 e 2017). Nunca gostei muito da vida de escritório; não sou anti-social, mas o escritório força-nos a partilhar muito tempo com pessoas com quem, às vezes, de outra forma, não escolheríamos conviver. Mas ultimamente tenho imaginado como será regressar; a excitação dos primeiros dias, o reencontro com aquela e aqueloutra pessoa; interromper o trabalho para contar e ouvir mexericos na varanda; o barulho das conversas alheias, recusar convites para almoçar; passos, cadeiras a arrastarem-se, cafés a serem tirados, gargalhadas. Eu, cética dos escritórios, convertida me confesso: saudades, e eu sei bem do quê…
Arroz de feijão vermelho (serve 2 pessoas)
Ingredientes
1 cebola grande
3 dentes de alho
1 folha de louro
Uma lata de feijão (das pequenas)
2/3 chávena de arroz (usei carolino)
Uma lata de tomate em pedaços (das pequenas)
6 rodelas de chouriço (corto em cubos pequeninos)
1/2 pimento vermelho
Sal e azeite qb
Salsa
Passo a passo
Refogar a cebola e os alhos picados, o pimento cortado em cubos, o chouriço e o louro num fio de azeite. Deixar alourar;
Adicionar todo o conteúdo da lata de tomate em pedaços e deixar cozinhar até que o tomate esteja praticamente desfeito;
Adicionar o arroz e envolver bastante bem na mistura. Temperar com sal (podem adicionar uma malagueta - eu gosto de tudo picante);
Adicionar ~2.5x a quantidade do arroz em água previamente fervida (para 2/3 de chávena de arroz adicionei 2.25 chávenas de água) + todo o conteúdo da lata de feijão vermelho (esta parte deixa a minha mãe - que coze o próprio feijão - doente);
Reduzir o lume e deixar cozer por ~14 minutos;
Adicionar a salsa picada e servir
Skills de camera woman a filmar na vertical: on point 👌
Até à próxima semana :)